Flávia Hargreaves
Neste texto compartilho com vocês minhas reflexões sobre o desenvolvimento artístico do cliente no processo arteterapêutico. Precisamos olhar pra isso com mais atenção.
Atendo público adulto e, muitas vezes, recebo pessoas que buscam na Arteterapia a possibilidade de resgatar a criança que adorava desenhar e pintar, revivendo aquele momento da vida em que CRIAR era algo natural e descomplicado. No contexto terapêutico começam a explorar novos caminhos para se conectarem com seus sentimentos e expressá-los.
Ao longo das sessões de Arteterapia, o cliente experimenta um processo terapêutico que implica em uma prática artística, colocando literalmente a mão na massa, recordando ou fazendo coisas pela primeira vez. A Arte começa a fazer parte da rotina abrindo um novo campo de exploração e inaugurando um novo olhar para si mesmo e para o mundo ao redor. Passa a ver como um artista, valorizando coisas no seu dia-a-dia que sempre estiveram ali mas não eram percebidas. Os benefícios da Arte passam a ser visíveis e a prática artística extrapola as sessões e passa a ser uma companheira de jornada.
Vamos imaginar que o cliente nunca usou lápis de cor, mas este material o atrai e ele o escolhe para suas criações por um período. Ele mergulha na experiência do lápis de cor, compra seu próprio material e passa a desenhar e colorir com frequência. É natural que se desenvolva tecnicamente e em alguns casos vá até buscar técnicas em vídeos na internet. E é justamente neste ponto que o arteterapeuta pode patinar, porque entende que ao adquirir técnica, a expressão deixa de ser espontânea e se distancia do objetivo da Arteterapia.
Mas porque a técnica contraria a espontaneidade? Será que isto é verdade? Ou seria insegurança do profissional em relação a Arte?
Tenho clientes que mergulharam na experiência artística nas sessões se identificando com determinada linguagem/material e a medida em que se desenvolveram tecnicamente ganharam segurança para se expressar na terapia.
Agora convido vocês para uma analogia com a música. Pensa comigo, a base do Jazz é a improvisação. Você acha que a técnica atrapalha os músicos? Claro que não, a técnica os liberta. O músico estuda, se desenvolve tecnicamente mas está em um ambiente que o convida a ousar e experimentar. Podemos levar este pensamento para o desenvolvimento artístico no ambiente arteterapêutico.
Voltando ao exemplo do lápis de cor. Ao explorar a técnica, ao experimentar vários modos de usar o material, a pessoa vai descobrindo o que gosta de fazer e vai desenvolvendo a própria técnica. Ela pode ter o apoio de algum aprendizado externo, como aulas de desenho, e o cuidado do arteterapeuta será garantir que este aprendizado esteja colaborando para o reconhecimento do próprio estilo, da sua própria técnica e não um aprisionamento a uma ideia de "bom" ou "ruim" que não seja autentica.
Concluindo a minha reflexão, a técnica não atrapalha e é naturalmente desenvolvida quando o cliente mergulha no seu processo criativo, que pode extrapolar as sessões. Precisamos, como profissionais, entender que o cliente é o artista e vai viver na Arteterapia as emoções do artista, seu entusiasmo, curiosidade, frustrações e paralelamente desenvolver suas habilidades na linguagem que escolher para falar de si. Cabe ao arteterapeuta acolher e acompanhar este movimento e para dar conta do processo também terá que fazer seu dever de casa se experimentando como artista e ampliando seu repertório.
Me conta aqui nos comentários o que pensa sobre o tema!
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Flávia Hargreaves é arteterapeuta (AARJ 402/0508), artista e professora de artes para terapia.
Em 2021 criou o projeto Arte para Terapia oferecendo cursos online de História da Arte para Terapia.
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Sim, essa é uma reflexão importante. O processo criativo já é curativo em si. Eu acredito que o arteterapeuta não deve inibir o fluxo criativo do cliente, nem a suas necessidades de produção estética.
ResponderExcluirObrigada pelo seu comentário. O arteterapeuta deve facilitar este espaço de expressão sem críticas. Se puder se identificar seria legal. Os comentários estão entrando como anônimos. Mas fique à vontade.
ExcluirÉ um privilegio poder contar com a orientação de alguém tão competente como você 💖
ResponderExcluirObrigada pelo seu comentário. Vc já deve me acompanhar em outros espaços, né? Você é arteterapeuta? Se puder se identificar seria legal. Os comentários estão entrando como anônimos. Mas fique à vontade.
ExcluirÓtima reflexão e comparação com o Jazz. Conhecer as técnicas amplia as nossas possibilidades de expressão artística e simbólica. Durante minha formação em Arteterapia senti a necessidade de fazer aulas de desenho e pintura, e o resultado foi muito positivo para minha expressão pessoal.
ResponderExcluirPois é Sandra, precisamos caminhar neste conhecimento e não contra ele.
ExcluirPara mim a grande questão e cuidado é não deixar que a técnica cerceie o trabalho espontâneo. Como você disse, cabe ao arteterapeuta observar se ficam constantes termos como feio/bonito, bem feito/mal feito e outros avaliadores do produto. Também acredito que o conhecimento das técnicas pelo arteterapeuta só fortalece o seu trabalho, ganhando dimensões de observação mais profundas. Comparação com o jazz foi show!
ResponderExcluirComentário enviado por Marcela Figueiredo Campbell (28/10/24): A sensação que é tenho é que quanto mais abraçamos nosso artista, mais fácil é sustentar o artistar do outro! Adorei o texto, Flávia! Abraço, Marcela
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