Pular para o conteúdo principal

ARTETERAPIA E EXPERIÊNCIA ARTÍSTICA.

Flávia Hargreaves

No texto a seguir trago as minhas reflexões sobre o estudo teórico e prático da Arte na formação do arteterapeuta.


Se você fez um bom curso de formação ou pós-graduação em Arteterapia, certamente experimentou muitas expressões artísticas ao longo de 2 ou 3 anos. Desenhou, pintou, bordou, fez colagem, modelagem, criou histórias, ... e viveu isso intensamente sentindo em si mesmo a potência transformadora da Arte.


Imagens do ateliê livre, 2024, com desenhos de Olivia e Flávia.
Fotografia: Flávia Hargreaves. 

Talvez a Arte faça parte da sua vida desde sempre, como no meu caso, ou talvez seu encontro com a Arte tenha ocorrido no próprio curso. Seja como for a experiência vivenciada na Arteterapia promove um encontro diferenciado com as linguagens expressivas.

Nos últimos anos tenho defendido a proposta de que, pelo menos na fase da formação, o futuro arteterapeuta se submeta ao processo arteterapêutico como cliente e, mesmo não sendo uma exigência na área, esta escolha vai fortalecer a sua experiência com a autoexpressão criativa e colaborar na autoconfiança e no posicionamento profissional quando iniciar sua carreira.

Concluída a formação, muitos usarão a Arteterapia como uma ferramenta complementar na psicologia, enquanto outros darão início a sua carreira como arteterapeutas. E, então seguem seus estudos na área da psicologia e/ou buscam ferramentas na Arte que lhes dê segurança mas que, muitas vezes, não cumprem a função básica de experiência artística necessária.


Quais seriam os pontos importantes para que o arteterapeuta tenha segurança no uso das artes plásticas na sua prática?

Fotografia: Flávia Hargreaves.


Como já coloquei no início desta reflexão, ao longo de 2 ou 3 anos o estudante experimenta muitas coisas. Mas como isso se dá na prática? Ele passa pela experiência com as linguagens e os materiais inseridos em uma vivência explorando um determinado tema e a consequência disso é acreditar que aquele material se usa de um determinado modo e está vinculado a uma temática específica, reduzindo muito as possibilidades reais daquela matéria. Para muitos esta "verdade" faz com que sintam seguros e crentes de que não cometerão erros.

Vamos aos pontos:

1. Conhecer os materiais, como funcionam e ser capaz de fazer as associações com o processo terapêutico. Estudar experimentando e explorando suas possibilidades e limites.

2. Referências da História da Arte, ampliando seu repertório de imagens e processos criativos para trabalhar com seus clientes.

3. Escolher uma linguagem/técnica e explorá-la como artista. Será importante criar, estar em movimento e viver as alegrias e frustrações do artista.

E como fazer isso?

Trazendo a prática artística para a sua rotina, frequentando ateliês livres de arte, participando de grupos de estudo e cursos que tenham este objetivo. A dica é estudar experimentando porque ler sobre aquarela e se deliciar vendo obras em aquarela não substituem o desafio de "fazer uma aquarela".

Ao ampliar o seu repertório de experiências artísticas o profissional vai ser capaz e explorar ao máximo cada material, vai ser mais econômico na hora de ir às compras, vai ter segurança e flexibilidade no uso dos materiais nos atendimentos.

Vou compartilhar com vocês algo que ocorreu semana passada. Em uma supervisão com uma ex-aluna do meu curso de materiais falávamos sobre técnicas que poderiam ser usadas em determinado atendimento e para minha surpresa ela se virou e pegou a pasta do meu curso que ela havia feito há 5 anos. E disse: o seu curso é um curso vivo, isso não acontece com todos os cursos. Esta pasta está sempre à mão e uso direto quando tenho dúvidas nos meus atendimentos.

Então vou finalizar com esta dica: ao iniciar os seus estudos monte uma PASTA com seus trabalhos originais ou fotos, a descrição das suas experimentações e suas reflexões. Esta pasta vai te acompanhar e te ajudar na sua rotina profissional!


Me conta aqui nos comentários o que pensa sobre o tema!

Caso tenha dificuldade em publicar seu comentário neste blog você poderá encaminhá-lo para o email: arteparaterapia@gmail.com que ele será publicado. 

Obrigada.






Flávia Hargreaves é arteterapeuta (AARJ 402/0508), artista e professora de artes para terapia.

Graduada em Comunicação Visual (EBA- UFRJ-1989)
Licenciatura Plena em Educação Artística - Artes Plásticas (EBA-UFRJ- 2010)
Formação em Arteterapia com Ligia Diniz (2009)

Participou como docente de História da Arte nos cursos de Formação em Arteterapia (Ligia Diniz, Baalaka e Leiza Pereira) e Artepsicoterapia (Coord. Maria Cristina Urrutigaray).
Em 2017 fundou o ateliê Locus, onde oferece cursos, ateliês livres e atendimentos em Arteterapia.
Foi colaboradora da Casa das Palmeiras (2014-2018) e Casa Verde (2009). 
Em 2021 criou o projeto Arte para Terapia oferecendo cursos online de História da Arte para Terapia. 
 

Siga-nos nas redes sociais

Contato
arteparaterapia@gmail.com

Comentários

  1. Um dos passos mais difíceis enquanto arteterapeuta é justamente se permitir experimentar, pois, a teoria diversas vezes se torna diferente da prática. Assim como na vida. Por isso é maravilhoso experimentar, mesmo que quebre suas expectativas ou saia do controle! É um enriquecimento muito grande tanto a nível profissional quanto humano.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada pelo seu comentário Marcela. Vejo o desafio desta experimentação como um ensaio para a vida onde também precisamos viver as quebras de expectativas e situações que se impõe.

      Excluir
  2. Uma das coisas mais importantes que eu ouvi de você foi sobre a importância do fazer artístico 🙏🫂

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

ARTETERAPIA E COGNIÇÃO: SERÁ QUE “DÁ MATCH”?

Por Sônia Leal de Souza. Sendo a Arteterapia uma abordagem terapêutica que utiliza a criação artística como meio de promover a saúde mental, emocional e física, não é de estranhar o fato de que exerça também um papel importante na área da Cognição - conjunto de habilidades mentais que permitem a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de emoções. É um termo que se refere a processos como: percepção, pensamento, tomada de decisões, julgamento, raciocínio, memória, atenção, imaginação, linguagem, etc. O espaço seguro proporcionado ao paciente/cliente não só pode auxiliar na questão emocional, mas também no campo cognitivo tanto com relação à criatividade quanto à flexibilidade mental , habilidades cognitivas muito importantes em um mundo constantemente mutável e exigente em suas demandas. Aqueles que, em um setting arteterapêutico, experimentam a liberdade de criar têm chance de conseguir sair de suas formas e moldes fixos em que os hábitos foram determinando padrões de resposta

MENOS É MAIS na oferta de materiais expressivos na Arteterapia.

por Flávia Hargreaves No texto a seguir traz as minhas reflexões sobre como introduzir o uso de materiais expressivos na prática terapêutica.   Apesar de, em minha prática como arteterapeuta, eu buscar a expressão espontânea, a experimentação livre dos materiais, aprendi na prática que a afirmação  "menos é mais"  também se aplica na oferta de possibilidades ao cliente.  É importante disponibilizar opções para desenho, pintura, colagem e algo tridimensional. Por exemplo: giz pastel, aquarela, papéis coloridos e massinha de modelar e quando inserir algo novo como tecidos e linhas, retirar uma das opções anteriores.  Desta forma você não corre o risco de excessos que podem confundir mais do que auxiliar no processo terapêutico, mas sem perder de vista o convite à livre experimentação.   Trabalhos realizados no curso “Arteterapia: conhecendo os materiais  e aprendendo a usá-los”,   17ª  edição, 2017. Fotografia: Flávia Hargreaves. Disponibilizar uma variedade de cenários

ARTE DE DESAPARECER no processo criativo.

  Flávia Hargreaves. O texto a seguir traz uma reflexão sobre a concentração e o foco no processo criativo. Estudando Psicologia Positiva entrei em contato com o conceito de FLOW (fluir) como uma experiência de êxtase, um estado de plenitude no presente que alcançamos quando fazemos algo de nosso próprio interesse. Ao mergulharmos no processo, o que fazemos parece não nos exigir esforço e captura toda a nossa atenção. Segundo Mihaly Csikszentmihalyi, citado no curso [1] por Sofia Bauer, seria "um estado dinâmico que se caracteriza pela consciência de quando a experiência é feita pelo seu próprio interesse." O conceito de flow me fez rever um texto de 2017 [2], que compartilho com vocês revisado e atualizado. Boa leitura e deixe aqui seu comentário sobre o tema! [1] curso Certificação em Psicologia Positiva Sofia Bauer. [2] "A arte de desparecer", texto publicado originalmente em <flaviahargreaves.blogspot.com>, 3/5/17, com revisão de Regina Diniz  Desenhos e f