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MENOS É MAIS na oferta de materiais expressivos na Arteterapia.

por Flávia Hargreaves

No texto a seguir traz as minhas reflexões sobre como introduzir o uso de materiais expressivos na prática terapêutica.

 

Apesar de, em minha prática como arteterapeuta, eu buscar a expressão espontânea, a experimentação livre dos materiais, aprendi na prática que a afirmação "menos é mais" também se aplica na oferta de possibilidades ao cliente.  É importante disponibilizar opções para desenho, pintura, colagem e algo tridimensional. Por exemplo: giz pastel, aquarela, papéis coloridos e massinha de modelar e quando inserir algo novo como tecidos e linhas, retirar uma das opções anteriores.  Desta forma você não corre o risco de excessos que podem confundir mais do que auxiliar no processo terapêutico, mas sem perder de vista o convite à livre experimentação.

 

Trabalhos realizados no curso “Arteterapia: conhecendo os materiais 
e aprendendo a usá-los”,  17ª  edição, 2017. Fotografia: Flávia Hargreaves.

Disponibilizar uma variedade de cenários sem excessos incentiva o selecionar,  o escolher os meios e a sua linguagem (desenho, pintura, colagem, etc.) e o mergulhar na exploração dos modos de usá-los, na busca de novas possibilidades. Em alguns casos, o limite de recursos oferecidos vai ser importante para que o cliente reconheça o que tem e este será o ponto de partida. Esse processo sugere que o indivíduo desenvolva novas habilidades e perceba que, na vida, muitas vezes, o que lhe falta não são os meios, mas a conscientização destes, assim como a busca de novos modos de lidar com eles (os meios). Compreender a tensão entre possibilidades e limites, oferecida por cada material, dá um novo significado ao seu uso, na Arteterapia e em áreas afins, já que, na vida, também vivemos nessa tensão, a qual não deve ser evitada, mas reconhecida e usada a nosso favor, como mola propulsora de nosso desenvolvimento psíquico e cognitivo.


Explorando fotograficamente formas tridimensionais no curso 
“História da Arte para Arteterapia”, 2017. Fotografia: Flávia Hargreaves.


Este modo de trabalhar norteou a construção do meu curso "Arteterapia: Conhecendo os materiais e aprendendo a usá-los", em 2009.  As aulas iniciam com escassez de variedade e quantidade de materiais... Costumo ouvir: “mas eu só posso usar uma cor?”.  Ao que respondo: “é o que temos para hoje!”. No decorrer do trabalho, entretanto, sempre uma surpresa... O limite gera novas possibilidades e, em dado momento, o aluno se sente mais estimulado e desafiado do que limitado. Ao final, os resultados, de fato, arrebatam seus autores. Ou seja, os mesmos meios geram novos modos.  Dessa forma, o aluno, profissional da arteterapia e de áreas afins, vivencia essa proposta para poder implementá-la em sua prática profissional e, quem sabe, em sua própria vida.


Me conta aqui nos comentários o que pensa sobre o tema!

Caso tenha dificuldade em publicar seu comentário neste blog você poderá encaminhá-lo para o email: arteparaterapia@gmail.com que ele será publicado. 

Obrigada.






Flávia Hargreaves é arteterapeuta (AARJ 402/0508), artista e professora de artes para terapia.

Graduada em Comunicação Visual (EBA- UFRJ-1989)
Licenciatura Plena em Educação Artística - Artes Plásticas (EBA-UFRJ- 2010)
Formação em Arteterapia com Ligia Diniz (2009)

Participou como docente de História da Arte nos cursos de Formação em Arteterapia (Ligia Diniz, Baalaka e Leiza Pereira) e Artepsicoterapia (Coord. Maria Cristina Urrutigaray).
Em 2017 fundou o ateliê Locus, onde oferece cursos, ateliês livres e atendimentos em Arteterapia.
Foi colaboradora da Casa das Palmeiras (2014-2018) e Casa Verde (2009). 
Em 2021 criou o projeto Arte para Terapia oferecendo cursos online de História da Arte para Terapia. 
 

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Contato
arteparaterapia@gmail.com

Comentários

  1. Uma boa reflexão

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    Respostas
    1. Obrigada. Mas seu comentário foi publicado como anônimo e eu queria muito saber seu nome...

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  2. Sandra Pinto14/10/24 18:17

    Interessante reflexão e exercício!
    Na pandemia experimentamos a limitação de materiais e, de certa forma, essa "falta" estimulou nossa criatividade.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Sim, a pandemia foi um grande exercício. Com toda a dor, medo e falta tivemos que dar um jeito com o que tínhamos. Neste aspecto foi uma oportunidade para criarmos novos modos de viver.

      Excluir

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