publicado originalmente no Blog [atelie.locus] https://flaviahargreaves.blogspot.com/2020/05/terapeuta-professora-e-artista.html
Oficina de Desenho "Ligando os Pontos" realizada pela equipe artes.LOCUS, no evento "Arteterapia no Parque", promovido pela AARJ em outubro de 2019. Fotografia: Fernando Hargreaves. |
Ter estudado Arteterapia e Licenciatura em Artes simultâneamente, entre 2006 e 2010, me ajudou a construir uma identidade profissional diferenciada como arteterapeuta e professora. Além disso, promoveu uma revisão no meu entendimento sobre o que é ser artista.
A "terapeuta", a "professora" e a "artista", ou melhor dizendo, a "arteterapeuta", a "professora de artes" e a "artista", foram convidadas igualmente a participar dessa construção, ajustando-se de acordo com os objetivos de cada trabalho. É importante ressaltar que as três profissões trazem a "arte" em comum, mesmo que cumprindo funções diferenciadas. Por esta razão, precisei reconhecê-las na minha prática profissional e na minha vida. Desmisturá-las em suas funções para criar um modo de trabalhar a arte na terapia, no ensino da arte e no desenvolvimento da minha expressão artística.
Aos poucos fui percebendo que precisava estar inteira pra me colocar diante do outro, tanto como professora quanto como terapeuta. E então descobri que podia continuar conectada em todas as minhas áreas porque dessa forma estaria ali por completo. Também foi significativo ter voltado a minha atenção para a relação que cada um tem com a arte identificando bloqueios e resistências diante do "fazer arte" e do “espontâneo”. Precisei reconhecê-los em mim também. Para isso, foi preciso abrir um espaço interno de diálogo sem certo ou errado; bom ou ruim e desconstruir crenças a respeito da arte, da terapia e do ensino. Só assim pude "desconfundir" as coisas e manter a integridade que precisava contemplar a "terapeuta", a "professora" e a "artista". Não necessariamente nessa ordem. Precisava torná-las "colaborativas".
Seguindo por esse caminho, busquei um ajuste dinâmico das minhas
práticas profissionais. Compreendi que enquanto uma ocupa o primeiro
plano, as demais se tornam auxiliares. Mas como isso se dá na
prática? Como a artista pode ajudar a terapeuta ou como a terapeuta
ajuda a professora e assim por diante? Responder a essas perguntas ainda não é
uma tarefa fácil. Acredito inclusive que muitos
arteterapeutas/professores/artistas também estejam vivenciando essas questões
no seu dia a dia. Por isso é importante trazer esse tema à tona para discussão.
E SIM, quero comentários com depoimentos e colaborações sobre o tema.
Voltando às perguntas, como se dá esse ajuste dinâmico?!
Vamos pensar no primeiro caso: quando a artista ajuda a terapeuta. A
terapeuta está em primeiro plano. Essa é a função principal. A artista e a
professora ficam em segundo plano, prontas para dar suporte a primeira quando
solicitadas. A artista vai ajudar na flexibilidade e vai ampliar as
possibilidades diante dos materiais. Ela conhece mil e uma maneiras de criar um
autorretrato, porque ela tem a experiência artística. Mas sua intuição vai ser
filtrada pela terapeuta de modo que sua colaboração seja realmente útil. Do
mesmo modo, quando a professora ficar ansiosa por ensinar a fazer algo, sua
colaboração será filtrada. Às vezes ensinar a base técnica de uma prática vai
auxiliar o cliente na sua expressão. Esse ajuste precisa estar ativo o tempo
todo. E, é claro que vamos errar, perder a mão, mas com a prática isso tende a
fluir com naturalidade. Pelo menos esta é a meta.
Então, gostou do tema? Comente e deixe a sua colaboração nos comentários.
Me conta aqui nos comentários o que pensa sobre o tema!
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Em 2021 criou o projeto Arte para Terapia oferecendo cursos online de História da Arte para Terapia.
Regina Freitas - via facebook em 20/05/20 - ref. artes.locus
ResponderExcluir"Somos multifacetadas, e essa multiplicidade nos torna únicas. O arranjo dessas múltiplas faces é único e nos torna originais. Participei de perto da construção dessa Terapeuta, Professora, Artista que habitam um único Ser, e posso dizer que é lindo quando esse diálogo existe de forma harmônica. Parabéns Flavia!!"
Isabel Pires20/05/2020 06:07 - ref. artes.locus
ResponderExcluirAcho que você coordena bem esses três aspectos, complementando-os de uma forma enriquecedora para o seu trabalho de arteterapia e definindo o seu estilo pessoal de forma eficiente e original. Continue pesquisando o tema e compartilhando conosco. Obrigada pelas suas reflexões e por seu lindo trabalho! Bjs
ResponderExcluirKarla Pustilnick - via facebook em 20/05/20 - ref. artes.locus
Flávia, ótimas colocações! Creio que o reconhecimento e a integração de "tudo e todos" que somos seja o caminho para o bem viver. Conseguir associar os próprios potenciais e conhecimentos nesta atividade engrandece a prática e favorece o resultado. Vc tem sido um exemplo rico de como essa ação colaborativa age na prática. Como sua aluna e sua cliente em artetarapia, experimento a profundidade e a excelência da sua integração. Gratidão!
Marisa Resnitzky Mizrahi - via facebook em 20/05/20 - ref. artes.locus
ResponderExcluirMuito bom estar perto do fazer do artista. Somos parte.. Sendo alunos ou professores, Terapeutas, artistas e/ou admiradores. As tintas se misturam com o próprio corpo, e o orgânico transborda, fazendo parte, agora sim nos tornando inteira(o)s . É como na música, a sinfonia preenche e se torna parte. Ou então quando sentimos que o instrumento musical é uma extensão de nosso próprio corpo. Flavia, você tem esta multiplicidade. Quando me perguntam, não sei dizer se sou psicóloga, arte-terapeuta ou artista. Somos uma multiplicidade ! É isso é maravilhoso ! Fazer o BEM, fazer o belo, tudo junto e bem misturado, criando cores novas e infinitas sensações ! Bjkas. Nos vemos na sua LIVE !
Flávia Oliveira20/05/2020 22:31 - ref. artes.locus
ResponderExcluirMuito interessante a sua reflexão. Acredito que aprendemos ao longo da vida devido à cultura a separar tudo em partes, porque é assim que a lógica trabalha. Mas o sentimento não. Ele mistura tudo. Somos ao mesmo tempo vários e isso é muito bom, porque cada um desses papéis exercidos tem de formas diferentes muito a contribuir para um olhar ampliado, um olhar empático, generoso para o outro, uma vez que tanto o artista quanto o arteterapeuta e o professor estão num exercício de escuta e de alteridade com o outro, para que a vida seja germinada em todo seu potencial.
Parabéns pelo seu trabalho tão fundamental para todos, mas especialmente para profissionais em início de carreira. Apontar caminhos é uma bela e generosa contribuição.